Roses - Duo: Damnare Princeps
Roses (@Srta_Park)
Duo: Damnare Princeps
Primavera, 5 de Abril
Winter’s Clastle, Enésior
Jungkook acordou sentindo uma sensação dolorida e ruim por sobre todo o seu corpo; desde o dedo mindinho do pé — que quase não estava sentindo mais — até o último fio de seu cabelo relativamente curto. Tudo doía, meu deus!
Por um momento questionou-se o motivo de sequer conseguir abrir os olhos por estes estarem pesados. A mente nublando-se pelo estado de recém-desperto e não conseguia formular quase nada além de alguns flashs de seu estranho sonho anterior.
Pensou em rir diante da bobagem em que era sonhar com rosas, tigres, castelos de inverno e… O príncipe. Contudo, a dor de cabeça latente não lhe deixava sequer ter coragem para um repuxar simples de lábio, quanto mais um sorriso.
Resmungou baixinho, se remexendo naquela coisa macia que estava sob si; entretanto, franziu o cenho ao ter seus movimentos limitados. Mal conseguia mexer as mãos e pés e… o que diabos era essa coisa fria passeando sobre sua pele?
Entreabriu os olhos, meio confuso. A coisa estava se arrastando pelo seu abdômen — que se contraiu devido ao contato desconhecido — e transpassou pela pele de sua clavícula, chegando ao pescoço, arrepiando-o por completo. Jungkook tinha a visão embaçada e piscou os olhos várias vezes para tentar enxergar alguma coisa.
Quando conseguiu, bem, fez o que qualquer pessoa faria nessa situação: Arregalou os olhos e gritou.
Sim, gritou. Quando se tem um garoto estranho — e fodidamente lindo — estranhamente deitado em cima de você em uma cama — Jungkook notou cinco segundos depois que a maciez abaixo de si eram os lençóis aparentemente de seda — e com o nariz enterrado em seu pescoço, literalmente lhe cheirando; Você grita. Talvez não em outras circunstâncias, mas isso não vem ao caso.
Devido ao seu susto, o garoto desconhecido também arregalou os olhos e se sentou de súbito em seu colo, gritando junto a sí. A situação era bizarra, se levasse em conta que Jungkook acabou percebendo que estava algemado — as mãos na cabeceira e os pés acorrentados — e sem fazer idéia de onde estava; ou quem era aquele ser esquisito que, pouco antes, lhe cheirava.
A porta foi aberta bruscamente e um garoto apressado entrou correndo no local, parecendo ofegante e preocupado pelos barulhos que ouvira.
Jeon ouviu a movimentação, mas não conseguiu nem raciocinar para olhar na direção da nova presença, então, não percebeu o sorriso malicioso que nasceu no rosto deste quando analisou bem a situação que se desenrolava à sua frente.
— Jimin! Quer dizer… — Pigarreou, corrigindo-se — Herdeiro, que fazes acomodado sobre o intruso?
— Taehyung! — O platinado esbravejou, olhando na direção do recém chegado ao cômodo. — O que está querendo insinuar?
— Horas, não estou insinuando coisa alguma. — Riu, andando calmamente até um criado-mudo de cor escura que estava posto ao lado da grande cama e depositou ali uma grande bandeja de prata contendo alguns mantimentos. Pouco antes de virar-se novamente e curvar-se para o garoto estranho e foderosamente lindo. — Mandei que Helena preparasse um desjejum simples para o prisioneiro como ordenaste-me, alteza. Há algo mais em que deseje dar-me a honra de realizar para si?
Jungkook estava mais confuso do que nunca. A dor de cabeça havia piorado e seu olhar oscilava entre os dois garotos ali presentes — cujos quais não fazia a mínima idéia de quem eram. E… Prisioneiro? Como assim?
— Porque você está sendo tão formal comigo, Taehyung? Eu, hein. — olhou-o pelo canto dos olhos.
Apesar de sua semi-eloquência, o alfa notou quando o loiro que acabara de entrar olhou para si de relance, desviando o olhar para o menor em seguida. Percebeu também que depois de alguns segundos, o baixinho pareceu entender o que quis dizer e depois pigarreou, endurecendo a voz.
— Já cumpriste com meu comando e não há nada que a minha pessoa esteja por desejar de ti neste momento. Pode descansar, por agora, Kim.
— Agradeço a benevolência, sua alteza. — Ele reverenciou mais uma vez, contudo, Jungkook notou o sorrisinho que ambos tentavam ocultar, muito mal, devo ressaltar.
Espera… Alteza? Quê?
Ao voltar à postura inicial, o tal Taehyung pendeu a cabeça para o lado levemente e esfregou os lábios, como se estivesse em dúvida sobre falar ou não algo.
— Mas, Jimi- Alteza. — Umedeceu os lábios, tendo a atenção alheia sobre si — O que fazias no colo do camponês?
— Ah, isso? — O garoto riu baixo — É que ele tem um cheiro bom.
Ok. Agora o Jeon estava boquiaberto. Aquele ser simplesmente estava assediando-lhe pelo seu cheiro?
— É mesmo? — Taehyung questionou, parecendo curioso e apontou devagar para o corpo moreno — Eu posso sentir também?
— Não! — Até o alfa assustou-se com o tom que ele usara — Quer dizer… Kim, chame conselheiro para mim.
— Não disse que não queria nada?
— Mudei de idéia. Chame-o, Taehyung.
— Mas, Jimin… — Ele fez birra.
— Com licença. — Jungkook pigarreou, atraindo a atenção dos dois — Irão mesmo continuar agindo como se minha pessoa não estivesse em vossa presença também? — Eles franziram o cenho. O Jeon umedeceu os lábios — Será que alguém pode explicar-me o que estou fazendo aqui?
— Esta pergunta é tu que tens de nos responder, bárbaro.
Um homem alto, claramente alfa, atravessou as grandes portas negras e adentrou o quarto onde estavam; a postura e o olhar firme davam-lhe um ar de seriedade; assim como as vestes em tons de preto, branco e verde escuro. Ele caminhou em direção a sí e o lupus não deixou de notar a forma como sua mão direita descansava sobre o pomo da espada embainhada em seu quadril, pronto para atacar a qualquer deslize seu.
— Desculpe-me, mas… — Subiu o olhar desde a espada até o rosto másculo e os fios loiros que estavam arrumados em um penteado bem feito. Jungkook arregalou os olhos, porque reconheceu o tal homem.
Era o mesmo que lhe ameaçara de morte na madrugada anterior.
Madrugada anterior… Madrugada anterior? Então, não foi um sonho?
Não percebeu que estava encarando-o a tempo demais; somente o fez quando gritos de surpresa fora ouvido e, mais uma vez, a lâmina afiada foi novamente posta em seu pescoço. Puxou os pulsos, na tentativa reflexiva de colocar as mãos na frente do corpo, contudo, novamente deu-se conta de que estava algemado.
O loiro alto lhe encarava com firmeza, o que o fez engolir a seco.
— Responda-me, intruso. — Insistiu, o tom sendo calmo, porém cortante.
Jungkook estava assustado, seus olhos arregalados e a expressão confusa denunciava tal; e percebendo isso, o príncipe encarou o mais alto, ordenando que abaixasse a espada.
— Não creio que seja necessário algo deste porte, Namjoon. — Disse-lhe, sendo culto e sério. — Embainhe já tua espada.
E como um servo fiel, o conselheiro real, com uma habilidade invejável, guardou a lâmina reluzente dentro da bainha que portava na cintura e curvou-se em respeito à sua alteza. Logo assumindo novamente a postura intimidante para o camponês. Jimin suspirou e voltou sua atenção ao rapaz.
— Agora, diga-nos. — Jungkook o olhou — O que fazias em meu castelo?
— Eu… — Iniciou, sem saber ao certo o que falaria. Teria se calado, mas o alfa mais velho não parecia disposto a deixar isso, então, foi sincero: — Eu não sei. Juro que não sei.
— Hora, seu! — Namjoon estressou-se, mas ao ver o olhar amedrontado do Jeon, parou e tentou se acalmar. Fechou os olhos e massageou as têmporas, abrindo-os em seguida. — Diga a vossa alteza seu caminho até aqui, detalhadamente.
O moreno assentiu, um pouco assustado com tudo aquilo. Umedeceu os lábios secos antes de começar:
— Eu não lembro muito bem, minha cabeça ainda dói. Mas, recordo-me de ser acordado pelo meu… — A frase pairou no ar por alguns segundos, não sabia ao certo se deveria mencionar o nome de seu progenitor, então, pigarreou antes de continuar: — Acordei durante a madrugada e decidi caminhar um pouco com meu cavalo, mas ele se descontrolou e acabou trazendo-me até o núcleo da floresta, onde deparei-me com seis grandes tigres. — Dizia tudo calmamente, tentando lembrar-se dos detalhes e rezava internamente para que acreditassem em si — Eu caí do cavalo e tentei lutar contra eles, mas um deles me empurrou e, eu não sei como, mas acabei vindo parar aqui. — Ocultou a parte da transformação pelo mesmo motivo que o fez com a menção seu pai.
Estranhou quando ambos abriram mais os olhos e começaram a se encarar, lhe fitando ansiosos em seguida.
— Quando foste empurrado pelo felino, o que sentira? — O tal Namjoon perguntou-lhe.
— Bom, eu não sei, foi estranho. Pareceu como se estivesse atravessando algo frio e molhado. Acho que foi mais como se estivesse sendo sugado por uma parede de gelatina. — Confessou, fazendo algumas caretas em meio a explicação.
A veia da testa podia ser facilmente identificada em meio ao cenho franzido e a sobrancelha direita erguida que o alfa mais velho portava, mas Jungkook estava distraído demais para notar isso, até que esse desfizesse a expressão e estalasse a língua no céu da boca.
— Certo, obrigado por cooperar, senhor?
— Jungkook. — Completou.
— Certo, Jungkook. Caso lembre-se de algo mais, por favor, não hesite em nos informar, será de muita utilidade. — Jeon sentiu-se tomar pela curiosidade no porque a forma com a qual conseguiu chegar até ali era de tamanha importância. Contudo, permaneceu quieto.
Enquanto estava em meio a seus pensamentos, o moreno mal percebeu o Kim, que já estava quase retirando-se do cômodo, entretanto, teve seu objetivo interrompido pouco antes de dar seu primeiro passo para trás.
— Nam, espere! — Era o príncipe, que agora sabia nomear-se Jimin, e ele parecia um tanto quanto afoito. De fato, estava.
— Sim? — O citado incentivou-o a continuar.
— É… Possível? — Indagou, com os olhos esbanjando ansiedade — Por favor, diga-me se meus pensamentos estão corretos. O que ele fez… É possível que seja...?
Jungkook não sabia dizer ao certo, mas algo doeu em si ao ver os olhinhos pequenos daquele garoto brilharem em meio ao tom indagado quase que em súplica; ele parecia demasiado indefeso, diferentemente da noite anterior. Namjoon suspirou.
— Perdoe-me, príncipe. Não posso dar-lhe uma resposta definitiva neste momento, está cedo em demasia e sinto que tu podes machucar-se caso minha pessoa seja imprudente em dar-lhe ela precocemente. — O maior respondeu, mas em seu rosto também podia ser identificado preocupação para com o pequeno. O que, aliás, era deveras estranho, se considerar o fato de que, supostamente, a relação que possuíam era somente de servo e príncipe real.
— Tudo bem… — O platinado murmurou, um pouco cabisbaixo.
— Mas, er… Alteza? — A atenção de todos se voltou para o esverdeado, que coçava a nuca desconcertado. Jungkook estranhou, mas não proferiu uma palavra; até porque, o próprio tornou a falar. — Pretendia não comentar nada sobre, até porque creio que isto não me diz respeito mas… Eu não acho, uhn… Apropriado. — Ergueu o olhar, gesticulando com as mãos. Jimin o observava, em pura confusão — Que o senhor esteja… Montado? — Franziu o cenho pela própria escolha de palavras — Neste rapaz, enquanto há pessoas no cômodo e…
— Conselheiro Kim… — Taehyung chamou-o.
— O sol ainda está brilhando bastante afora, e há outros servos acordados neste momento…
— Namjoon...
— Não que eles tenham algo a ver com o que fazes ou deixa de fazer, mas é só que, creio eu, isto não é bom para tua imagem e…
— Hyung! — Gritou, finalmente conseguindo captar a atenção do homem, que o fitou surpreso. O beta riu, um tanto nervoso, e prosseguiu: — Ele não sabe, uh… nada, sobre isso.
Jungkook pode notar quando o mais velho entre abriu os lábios, deixando escapar um som que julgou ser de entendimento e então, viu quando franziu o cenho em descrença, apontando para o menor que encarava a cena confuso e interessado.
— Mas, ele tem vinte anos! — Pontuou, e o Jeon se surpreendeu. Então ele era mais velho que si? — Já passou várias vezes pelo…
— Do que é que estão falando? Eu também quero saber. — Jimin interrompeu-lhe, conseguindo os olhares em si. Taehyung pigarreou.
— Enfim, não importa. Apenas, Namjoon? — O citado murmurou algo para que prosseguisse e um sorriso cínico nasceu no rosto do beta — Cala a boca.
— Ora, seu! — Iria avançar em si, mas desistiu dois segundos depois, bufando e voltando sua atenção ao príncipe — Por favor, levante-se daí, Alteza.
— É, levanta, Jimin. — o Kim mais novo sorriu maldoso, mordendo a ponta da língua e o outro ficou sem entender, até que o Park bufasse e se erguesse parcialmente, fincando os joelhos no colchão; revelando a nudez completa do lupus.
O castanho arregalou os olhos, mas antes que pudesse protestar, o mais velho o fez.
— Jimin! — Gritou, assustando-o e o fazendo paralisar no lugar — Senta. — E ele o fez, rápido. Jeon arregalou os olhos e segurou o grunhido na garganta.
— Não, ele tem que levantar, não é mesmo, Alteza? — Tae provocou, semeando a discórdia e nem sequer dando atenção para o olhar mortal que lhe foi lançado pelos dois alfas — Vamos, saia daí.
O garoto, confuso, arrastou-se para se erguer, mas foi parado — de novo — por um Namjoon afoito: — Fique aí, Jimin!
— Nada disso, levante-se, Alteza.
— Taehyung!
— Namjoon!
E nessa confusão, Jeongguk somente rezava para todos os santos — que ele nem acreditava existirem — não terminar com uma ereção no meio das pernas; seria o fim.
— Parem com isso! — Rosnou frustrado, nem sabia como teve coragem para tal; entretanto, pareceu funcionar, já que todos aquietaram-se. Apenas sentiu um tanto se culpa ao ver o único ômega presente se encolher, estremecendo um pouco. — Desculpe. — Murmurou, vendo-o apenas assentir.
O conselheiro real suspirou, arrependendo-se de sua própria infantilidade. Já o outro, apenas revirou os olhos e passou a fitar suas unhas bem cuidadas.
— Vire-se, Taehyung. — Ordenou, endurecendo um pouco mais o tom quando ele lhe fez pouco caso — Faça o que disse, garoto.
Bufando, obedeceu. Girou os calcanhares e cruzou os braços, rolando os olhos. Namjoon subiu os três pequenos degraos que levavam até a base de cima, onde estava a cama, e, após curvar-se em respeito, colocou os braços por debaixo das axilas do príncipe e o ergueu, tirando-o da cama e pousando-o no chão de modo que ficasse com as costas para ela. Por fim, jogou um lençol de seda branco sobre o prisioneiro, que agradeceu-lhe mudamente.
— Pronto, problema resolvido. — Concluiu, voltando a descer da base mais alta. — Devo acompanhar-lhe até seus aposentos, sua alteza?
— Não precisa, irei ficar por aqui um pouco mais. — Respondeu-lhe, assentindo quando o Kim perguntou-lhe se tinha certeza disso — E Tae, vá com Namjoon e certifique-se de que nada do que houve de ontem para hoje saia deste palácio.
— Porquê eu? O Nam pode fazer isso sozinho. — Choramingou, fazendo manha.
— Vá, Taehyung.
Com um bico contrariado, o loiro olhou pelo canto dos olhos para o maior, e empinou o nariz, saindo na frente e sendo seguido pelo alfa risonho.
— Não ligue para eles. — Jeon parou de olhar para a porta, por onde os outros acabaram de passar, e fitou o platinado, que já acomodava-se na ponta da cama, com um semblante terno — Só são meio estranhos, mas são boas pessoas.
Assentiu, meio incerto. Iria permanecer calado, mas não conseguiu.
— Perdoe-me pela ousadia, vossa alteza. Mas, por quê diz-me isso? — Questionou, confuso e até mesmo curioso — Digo, como mesmo disseram-me desde que acordei, sou apenas um prisioneiro.
— Eu não sei, na verdade. — Foi sincero, dando de ombros — Meu âmago apenas não quis que tu os mal interpretasse. Algo bobo de minha parte, por favor, ignore.
— Certo…
— Ah, e peço-lhe desculpas pela má recepção que lhe ofereci na noite anterior, apesar de achar que você mereceste. — Semicerrou os olhos. — Você destruiu meu jardim.
— Foi sem querer, eu juro. Eu só queria uma rosinha só… — Murmurou, arrependendo-se ao ver o olhar mortal que o garoto lhe deferira.
— Era só pedir. Não é como se fossem lhe negar uma rosa. — Acusou, cruzando os braços.
— Mas é claro, eu iria fazer muita coisa morrendo de medo. — Murmurou baixo.
— O que disse?
— Nada, nada. — Suspirou — Sinto muito pelo seu jardim. Há algo que posso fazer para me redimir?
— Como você ultrapassou a barreira?
— Hã? — Franziu o cenho, pela pergunta súbita; e arregalou as orbes quando o menor voltou a subir em cima de si, lhe encarando com aqueles olhos cheios de espectativa e curiosidade.
— Como passou pela barreira? Como conseguiu entrar aqui? — Ele tornou a questionar.
— E-Eu não sei, eu… — Poderia estranhar a forma como seu coração estava batendo mais forte em seu peito, ou sua voz estar saindo mais sussurrada. Mas, na verdade, sequer notou isso; não quando aqueles olhos lhe encaravam tão de perto e aquele cheiro parecia empreguinar em todo seu ser. — Achei que já tivesse respondido isso.
Seu tom de voz saíra tão baixo quanto o canto se um pássaro recém-nascido; ouvia perfeitamente o farfalhar leve das árvores sem folhas e o som de passos sobre o chão coberto de neve, ao lado de fora. Contudo, nada parecia mais relevante quando seus olhos caíram sobre os lábios rosados e úmidos, entreabertos à alguns centímetros do seu. Sentiria-se culpado caso entendesse o motivo pelo qual seu lobo estava agitado dentro de si; sentiria-se culpado por desejar, quase que gritantemente, beijar aquele ser que nunca vira em outro momento de sua vida; sentiria-se, caso estivesse raciocinando direito.
Porém, antes que pudesse desembaralhar seu cérebro — ou embaralhá-lo ainda mais — seus pensamentos foram quebrados quando uma leve sensação gélida apossou-se de seu pescoço. E, após piscar os olhos algumas vezes, conseguiu voltar a si e perceber que, mais uma vez, o platinado estava inalando seu cheiro como se fosse a coisa mais normal à se fazer.
Abriu a boca para protestar, mas calou-se quando os dedinhos curtos passearam pelo seu dorso, por cima do lençol e embrenharam-se no tecido, enquanto a voz, alguns tons mais baixos que o comum, sussurrou-lhe: — Você tem um cheiro muito bom. — Arrepiou-se da cabeça aos pés.
E foi quando o castanho expirou o ar que nem mesmo notou ter segurado, o que fez Jimin finalmente notar o que estava fazendo, e se erguer, saindo da cama e se prostando de pé ao lado desta.
— Me desculpe, eu não consegui controlar-me. De novo. — Sorriu encabulado.
— Não tem problema… eu acho. — Ainda desnorteado, afirmou, arrancando um sorriso de dentes do mais velho.
O curto período de silêncio foi quebrado pelo som vergonhoso proveniente do estômago do alfa, denunciando as muitas horas que passara sem alimentar-se. Jimin sorriu ainda mais, e o moreno conseguiu esquecer-se brevemente de sua vergonha ao notar como os olhos dele ficaram pequenininhos ao serem espremidos pelas bochechas gordinhas.
— Desculpe-me, deve estar com fome. — Pontuou risonho, antes de apontar para a bandeja sobre o criado-mudo. Porém, tornou-se confuso quando o Jeon continuou a fitá-lo. — O que foi?
— As algemas. — Murmurou baixo.
— Ah, sim, perdão. — Riu, caminhando em direção á bancada de madeira e abriu a primeira gaveta, tirando dali uma chave e liberou uma das mãos. — Isso foi coisa daqueles dois. Nam disse que era por precaução e o Tae falou algo sobre ser sexy. — Franziu o cenho e deu de ombrou em seguida, desalgemando a outra mão. — Não entendo como dois irmãos podem ser tão diferentes.
Jimin riu baixo, colocando a bandeja no colo do lupus. Se os servos de seu pai o vissem servindo um mero camponês, sua reputação cairia ainda mais, entretanto, não ligava nem um pouco para tal.
— Eles são irmãos? — Questionou, surpreso. O outro apenas assentiu, observando-lhe comer — Não parece.
— Foi o que eu pensei, quando os conheci. — Comentou — Mas, com a convivência, pude enxergar o laço fraterno que possuem. É forte.
Jeongguk limitou-se ao silêncio a partir de então, e o outro o espelhou. Apesar disso, não era incômodo. Na verdade, a presença do príncipe lhe era estranhamente cômoda, o que lhe permitiu devanear um pouco sobre tudo que havia acontecido em menos de doze horas. Em um piscar de olhos, passou de sua vida monótona e calma, para se tornar um intruso no castelo de inverno da Fera — que de fera, constatou, não tinha nada. Ao menos, não aparentemente.
Sob o olhar curioso do ômega, terminou seu desjejum, não questionando quando ele fez questão de recolher sua bandeja e devolvê-la ao criado-mudo, pouco antes de virar-se para si com um sorriso — Ele sempre sorria assim? Jungkook se perguntou internamente.
— Para me redimir devido á má hospitalidade, irei agraciar-lhe com minha benevolência concedendo-lhe um desejo, senhor Jungkook. — Pontuou — Diga-me, o que queres?
— Eu não posso ir embora, não é? — Arriscou, recebendo um sinal negativo como resposta. — E que tal um banho?
• • •
Ao estar dentro daquela humilde casa-de-banho — que era bem maior que seu casebre inteiro — Jungkook suspirou, passeando seus olhos pelo lugar, visando distrair sua mente que bombardeava-lhe com perguntas, que se resumiam em: como sua vida seria daqui para frente?
Era impossível saber a resposta, contudo, algo lhe dizia que nada, nunca mais, seria como antes. Sendo realista, ainda ponderava a idéia de tudo ser somente um sonho muito estranho bolado por sua mente fértil.
Apesar de tudo, não queria martirizar-se pelos pensamentos; e pensando nisso, caminhou sem pressa em direção á grande banheira de porcelana, com paredes quadradas de madeira lisa arroedando-a, acoplada ao chão. Suspirou ao subir os três degraos e tocou brevemente a água, com as pontas dos dedos, sentindo-a gelada.
Praguejou baixo ao sentir seus dígitos queimarem levemente pela temperatura extremamente baixa e fechou os olhos, não raciocinando bem quando tentou usar aquela coisa estranha que havia descoberto saber fazer á alguns anos atrás. Se concentrou, mantendo seu objetivo em mente e, aos poucos, sua pele foi esquentando, transpassando o calor para a água, que em alguns segundos tornou-se morna.
Estava prestes a entrar nela e teria o feito caso o barulho ensurdecedor de algo se quebrando atrás de si não o chamasse atenção.
Virou-se de súbito, deparando-se com um Jimin boquiaberto e estatalado, encarando o nada. Assustou-se com a cena e preparou-se para explicar-se, porém, ele ergueu os olhos e lhe fitou, paralisando-lhe com as próximas palavras que sairam, quase sem voz, por sua boca:
— Prae Dolore.
E nem mesmo seu semblante desnorteado mascarou o rastro avermelhado que brilhou em suas orbes naquele momento.
Bem, estava certo ao imaginar que sua vida jamais seria a mesma novamente.
Maldito príncipe, e a confusão que ele lhe trás.
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